Cruel Nostalgia
Aqui em meio às páginas do meu coração, ainda encontro vestígios da saudade, um eco persistente que desafia a lógica e os conselhos sensatos. Sou uma personagem trágica, aprisionada em um romance do século XIX, onde o imperfeito e tortuoso se revela como o mais belo e inalcançável dos ideais.
Meu pensamento vagueia pelas vielas escuras da memória; os momentos felizes reluzem como gemas preciosas em meio ao lodo do desencanto. A nostalgia, essa deusa caprichosa, planta e rega ao redor das minhas lembranças, transformando o passado em um jardim encantado onde apenas as rosas mais vibrantes florescem, enquanto os espinhos são gentilmente esquecidos.
No entanto, não posso me permitir sucumbir aos caprichos desse enredo predestinado. Como uma heroína de Jane Austen, devo erguer a cabeça com dignidade, reconhecendo que o verdadeiro amor não reside na lembrança idealizada de um passado que não foi perfeito. Aprendi, à maneira de Elizabeth Bennet, que o coração deve ser protegido com zelo contra os encantos fugazes de uma paixão que não perdura.
Devo seguir o conselho sábio de Shakespeare: "to thine own self be true" - ser verdadeira comigo mesma. Reconheço que o amor digno de ser lembrado é aquele que me eleva, não aquele que me prende ao passado com correntes de saudade. Como as grandes heroínas literárias, ergo-me com a sabedoria adquirida, pronta para escrever novos capítulos onde minha voz seja a narradora de uma história de autodescoberta e crescimento.
É que é tanto para uma só cabeça. A proximidade com a beleza, a sensação de ser quase suficiente, assemelha-se a um vazio. Nas horas mortas da madrugada, esse peso se torna insuportável. Tento desesperadamente afastar o pessimismo, utilizando até mesmo do humor como escudo.
Contudo, para minha alegria, tudo sempre fica bem e a manhã sempre vem. Mesmo sendo sufocada por tanto, saber quem és e tua devida vocação é sempre o melhor antidoto contra o sofrimento.
Portanto, para encontrar a felicidade, basta não ter medo de se encontrar.